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Conclusão de O Livro dos Espíritos
Mensagem de Paulo, o apóstolo
“Gravitar na direção da unidade divina, este é o objetivo da Humanidade; para atingi-lo, três coisas são necessárias: a justiça, o amor e a Ciência; três coisas lhe são opostas e contrárias: a ignorância, o ódio e a injustiça. Pois bem! Em verdade vos digo, que contradizeis estes princípios fundamentais,
comprometendo a ideia de Deus, pelo exagero de sua severidade; vós a comprometeis duplamente, deixando penetrar, no espírito da criatura, a ideia de que nela há mais clemência, mais mansuetude, mais amor e verdadeira justiça do que atribuís ao ser Infinito; destruís até a ideia do inferno, tornando-o ridículo e inadmissível às vossas crenças, como o é aos vossos corações o horrendo espetáculo dos carrascos, das fogueiras e das torturas da Idade Média! Pois, então! Quando a era das cegas represálias encontra-se banida para sempre das legislações humanas, é que esperais mantê-la no ideal? Oh! Crede-me, crede-me, irmãos em Deus e em Jesus Cristo, crede-me: resignai-vos a deixar perecer em vossas mãos todos os vossos dogmas, antes que ganhem outros contornos ou, então, revivificai-os, abrindo-os aos benéficos eflúvios que os bons, neste momento, derramam sobre eles.
A ideia do inferno, com suas fornalhas ardentes, com suas caldeiras ferventes, pôde ser tolerada, isto é, perdoável, num século de ferro; mas, no século dezenove, não passa de um vão fantasma, próprio, quando muito, para amedrontar criancinhas e em que estas não creem mais, quando se tornam adultas. Persistindo nessa mitologia apavorante, engendrais a incredulidade, mãe de toda a desorganização social; tremo, portanto, vendo toda uma ordem social abalada e ruindo pela sua base, por falta de sanção penal. Homens de fé ardente e viva, vanguarda do dia da luz, mãos à obra, portanto! Não para manter fábulas envelhecidas e, daqui em diante, desacreditadas, mas para
reavivar, revitalizar a verdadeira sanção penal, sob formas condizentes com os vossos costumes, vossos sentimentos e as luzes da vossa época.
Quem é, com efeito, o culpado? Aquele que, por um desvio, por um falso movimento da alma, afasta-se do objetivo da criação, que consiste no culto harmonioso do belo, do bem, idealizados pelo arquétipo humano, pelo Homem-Deus, por Jesus Cristo.
O que é o castigo? A consequência natural, derivada desse falso movimento; uma soma de dores necessária a fazê-lo ter aversão à sua deformidade, pela experimentação do sofrimento. O castigo é o aguilhão que estimula a alma, pela amargura, a dobrar-se sobre si mesma e a retornar ao porto de salvação.
O objetivo do castigo não é outro senão a reabilitação, a libertação. Querer que o castigo seja eterno, por uma falta que não é eterna, é negar-lhe toda a razão de ser.
Oh! Em verdade vos digo, cessai, cessai de colocar em paralelo, na sua eternidade, o Bem, essência do Criador, com o mal, essência da criatura; isto seria criar uma penalidade injustificável. Afirmai, ao contrário, o abrandamento gradual dos castigos e das penas, através das transmigrações, e
consagrareis a unidade divina, pela união da razão ao sentimento.”
Paulo, apóstolo
Kardec, Allan. Livro dos Espíritos (pp. 351-352). CELD. Edição do Kindle.